Boas, para o filme desta semana escolhi aquele que ganhou o óscar para melhor atriz principal: "Still Alice". Como foi o filme que apresentei na minha oral de português, este post é uma especie de "adaptação" do meu discurso. Em duas palavras: breath taking.
De uma maneira muito resumida, o filme retrata a jornada de
Alice Howland, desde o momento em que lhe é diagnosticada Alzheimer precoce,
até ao momento em atinge uma fase avançada da doença, em que quase não consegue
articular as palavras.
O problema de Alice é que ela tem apenas 50 anos e enfrenta
uma alzheimer galopante, que em menos de dois anos lhe arranca toda a sua identidade.
O filme é de uma violência arrebatadora que nos deixa
psicologicamente de rastos. Testemunhamos um ser humano a ser completamente
despido, a ficar sem identidade, sem qualquer sentido de existência. Pior que
muitas doenças físicas, são as doenças que afetam o nosso ser, enquanto
individuo pensante. Por muito mal que estejamos fisicamente podemos sempre
refugiarmo-nos no nosso interior, entretermo-nos com o nosso pensamento e
reconfortarmo-nos com as nossas memórias.
Se nos tiram tudo isso, quem somos afinal? Se são as memórias e as
experiências que fazem de nós a pessoa que somos hoje, o que acontece quando
tudo isso é simplesmente arrancado do nosso cérebro? Ou, por outras palavras,
quando é que realmente morremos? Quando o nosso coração para de bater, ou
quando deixamos de ter noção de quem somos? O filme capta a frustração deste dilema
na perfeição e chama-nos para uma discussão interior, que nos faz pensar nos
limites da nossa própria existência.
Na minha opinião o filme contem alguns momentos e pormenores
marcantes que dão ao filme a dimensão que ele transporta: primeiro, a ironia
evidente no facto de Alice ser uma professora de linguística bem sucedida que
vê as próprias palavras, que ela tanto estudou e conheceu, escaparem da sua
boca quando tentava falar.
Um segundo momento
simbólico é a corrida que está muito presente no filme. Na minha interpretação
metafórica, a corrida representa uma procura inalcançável de algo, que parece
estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Podemos fazer uma analogia em
relação ao alzheimer, porque tal como na corrida, há uma luta interna
frustrante para lembrar coisas tão básicas que ao mesmo tempo nos apresentam
codificadas.
Finalmente, outro momento que não posso deixar de referir é a
luta constante e a invenção de estratégias por parte de Alice para combater a
doença. Um dos que mais gostei foi a utilização de um marcador amarelo que ela
usava para assinalar que já tinha lido uma certa linha de um livro, e assim não
lia essa linha vezes e vezes sem conta.
Devo também acrescentar que o sucesso do filme deveu-se, em
grande parte, á atriz principal, Julian Moore, que, muito merecidamente ganhou
o óscar de melhor atriz pela representação de Alice. Ela consegue-se adaptar as
dificuldades crescentes da personagem de uma forma quase natural, digna, sem
grandes cenas nem histerias.
Apesar de ter gostado, a minha principal crítica negativa ao
filme foi o facto de os personagens secundários (filhos e marido), assim como
as relações entre eles e a protagonista, serem muito superficiais e pouco
desenvolvidos.
Concluindo, o filme é simples, a história é simples, a
encenação limita-se ao básico e o final não tem qualquer reviravolta, é apenas
o retrato nu e cru do que é esta doença para o doente e para os seus familiares.
Então, porque escolher este filme? Porque, apesar de não ter qualquer aparato
ou adereço, ele cativa simplesmente pela história e é assim que se sabe quando
um filme é realmente bom.
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